MAGAZINE DOS DINOSSAUROS

28 janeiro, 2012

Crocodiliano é descoberto em São Paulo

Ele era um bicho "bastante esquisito", nas palavras do paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Viveu na era dos dinossauros, mas não era um dino; tinha o formato de um crocodilo mas, diferentemente dos de hoje, tinha curiosos "chifres" no crânio.
"Não existe nada parecido com ele", diz Kellner. E nenhum ser vivo hoje descende desse animal "crocodiliano" --semelhante a crocodilos-- encontrado perto de Presidente Prudente (SP).
Descrito agora na revista "Zoological Journal of the Linnean Society", ele recebeu o nome Caryonosuchus pricei, do grego "cáryon", protuberâncias (os "chifres"), e "souchus", crocodilo.
Animais como esse eram comuns no Brasil durante o período geológico Cretáceo superior, entre 83,5 milhões a 65,5 milhões de anos atrás.
Antes desse período, os continentes estavam unidos na Pangeia, dividida em uma parte sul (Gondwana) e uma norte (Laurásia). Mas, com o processo de deriva continental, as partes foram se afastando. O que viria a ser a América do Sul ficou em certo isolamento no Cretáceo.
"Isso permitiu aos crocodilianos ocuparem nichos ecológicos específicos", diz outro coautor do estudo, Diógenes de Almeida Campos, do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral, do Rio.
Os "jacarés" de então "faziam de tudo": havia espécies que comiam insetos, outras tinham habitats marinhos, outras eram carnívoros predadores ou comedores de carniça --ou ambas as coisas, o que parece ser o caso do Caryonosuchus pricei. A variedade desses bichos mostra como a fauna no Brasil do Crétaceo era diversificada.
"Ele tinha dentes fortes e serrilhados, ótimos para mastigar ossos e ter acesso ao tutano", afirma Campos. "Tinha dentes triangulares possantes com lâminas voltadas para fora em uma mandíbula e para dentro na outra, bons para cortar, quebrar ossos e atacar outros animais", completa Kellner.
E nem tão grande assim: só se conhecem dentes, a parte anterior do crânio e a mandíbula inferior do animal, o que indicaria um comprimento de até 1,2 metro.
Ou seja, não era uma ameaça aos grandes dinossauros. "Convivia com eles, cada qual na sua", diz Campos.
Isso indicaria que poderiam ter comportamento semelhante ao das hienas. Além de comedoras de carniça, elas atacam em bando à noite. Teriam os crocodilomorfos dessa espécie hábitos semelhantes? Ainda não é possível saber.
E para que serviam os "chifres"? "Essa é a grande pergunta", diz Kellner. Poderiam ser um meio de ajudar as espécies a se distinguirem entre si ou ter alguma função ainda desconhecida.

25 janeiro, 2012

Ovos de dinossauros mais antigos do mundo achados na África

O ninho de dinossauro mais antigo do mundo foi localizado na África do Sul. Os ovos são, pelo menos, cem milhões de anos anteriores a qualquer outro descoberto.

Os fósseis são de prossaurópode Massospondylus, parentes dos saurópodes de pescoço longo, como o Diplodocus.
O sítio paleontológico tem cerca de 190 milhões de anos. Nele, também há esqueletos de embriões de dinossauros. O trabalho foi publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

Os paleontólogos encontraram dez ninhos separados, cada um contendo até 34 ovos medindo de seis a sete centímetros. Isto sugere que o Massospondylus retornou ao local várias vezes, colocando seus ovos em grupos.
Os ovos estavam em um trecho de 25 metros de uma área rochosa do Golden Gate Highlands National Park, na África do Sul.
Os pesquisadores acreditam que outros sítios paleontológicos estejam escondidos pela rocha. Com o tempo, a tendência é que os processos naturais de erosão os exponha.
- Apesar de haver registros expressivos de fósseis de dinossauros, temos realmente poucas informações sobre sua biologia reprodutiva, particularmente dos primeiros dinossauros - disse David Evans, curador associado de paleontologia de vertebrados no Museu Real de Ontário. - Esta série impressionante de ninhos de 190 milhões de anos de idade nos dá o primeiro olhar detalhado sobre a reprodução de dinossauros no início de sua história evolutiva.

Pesquisadores descobrem que dinossauro alado tinha penas pretas

Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pela Brown University, dos Estados Unidos, descobriu que as penas do dinossauro alado Archaeopteryx eram pretas.
A pesquisa, publicada na Nature Communications, é um importante passo para compreender como se deu a evolução dos répteis para as aves.
Os estudiosos descobriram a cor da pena após identificarem a presença de melanossomos, uma estrutura celular responsável pela produção de pigmentos e que garante maior sustentação estrutural à pena.

De acordo com o estudo, isso mostra uma formação muito semelhante a das penas das aves vivas, confirmando que esse tipo de asas já existe há pelo menos 150 milhões de anos.
A pena de Archaeopteryx foi descoberta em um depósito de calcário na Alemanha em 1861. Os traços que fazem da espécie um intermediário evolutivo entre dinossauros e aves, segundo os cientistas, são a combinação de características de répteis - como dentes, dedos com garras e uma cauda óssea - e das aves, como asas com penas.
"Não podemos dizer que isso é prova de que o Archaeopteryx era um voador. O que podemos afirmar é que nas penas das aves modernas, esses melanossomos garantem força e resistência adicionais para o voo, que é o motivo pelo qual as penas e suas pontas são as áreas mais comumente pigmentadas", disse o pesquisador Ryan Carney.

18 janeiro, 2012

O maior predador do Sudeste brasileiro há 80 milhões de anos

Enquanto os dinossauros carnívoros dominavam diversas regiões do mundo no Período Cretáceo (de 145 milhões até 65 milhões de anos atrás), no Sudeste brasileiro um outro animal era o dono do pedaço há 80 milhões de anos.

Com dentes serrilhados — próprios para abater o adversário e cortar sua carne — e até 6 metros de comprimento, a mais recente espécie de crocodilo pré-histórico descrita por paleontólogos é o Stratiotosuchus maxhechti, chamado de croc-gladiador, foi apontado como o maior predador do período.
- Há muitos anos, desde que se encontrou o primeiro exemplar desse grupo, em 1945, achava-se que eram jacarés diferentes dos demais - conta o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ, coautor do estudo publicado na “Zoological Journal of the Linnean Society”, de Londres. - Havia sempre a ideia de que esses animais competiriam com os dinossauros carnívoros, raros no Cretáceo brasileiro, pelo topo da pirâmide alimentar. Mas não havia nenhum estudo com um esqueleto que pudesse sustentar isso.
Diferentemente dos crocodilos atuais, a fera era completamente terrestre. O crânio era alto, não achatado; as narinas totalmente voltadas para frente e não para o alto, e os olhos, igualmente frontais.
- Já se havia aventado a hipótese de que esse grupo de predadores terrestres não seriam como hoje, por conta dessas características cranianas, por ter narinas e olhos voltados para frente - explica o paleontólogo Douglas Riff, coautor do estudo, da Universidade de Uberlândia. - Mas faltava estudar a anatomia dos membros.
Ao longo de seis anos, Riff dedicou boa parte de seus estudos a isso, revelando características peculiares.
- Era um bicho terrestre, que andava ereto. Não sobre duas patas, sobre quatro, mas com as pernas para baixo do corpo, como um mamífero, e não como um lagarto cujas pernas são para o lado, espalhadas, e cuja barriga fica próxima do chão - explicou Riff. - Os jacarés de hoje são peculiares porque podem ter as duas posturas. Quando estão na água, ou na beira da água, ficam mais espalhados. Mas eles conseguem jogar os membros para baixo e até correr galopando.
Os especialistas conseguiram detalhar também a eficiência da mordida do bicho. Dentes serrilhados — típicos, por sinal, de dinossauros carnívoros —, maiores na parte da frente e praticamente ausentes no terço final da mandíbula, são característicos de animais que caçam bichos maiores do que eles, segundo Riff.
- Trata-se de um hiperpredador, arrancando nacos da presa e engolindo sem mastigar. A serrilha no dente é como uma faca laser, amplia o poder de corte - resume Riff. - Para se ter uma ideia, o Tiranossauro rex é exatamente assim, quase não tem dente na parte posterior da mandíbula e, quanto mais para frente, maiores os dentes.
O fóssil foi encontrado nos arredores de Presidente Prudente, em São Paulo. Ao menos naquela região os especialistas acreditam que os crocodilos pré-históricos eram os donos do pedaço, os maiores predadores, e não os dinos carnívoros, como é mais comum.
Inicialmente achou-se que essa aparente discrepância poderia ser atribuída a uma questão de preservação de fósseis.
- Em primeiro lugar, a abundância de fósseis (dos crocodilos) é grande e os de dinos carnívoros não aparecem muito. E há muitos dinossauros herbívoros também, assim como outros bichos, como tartarugas e até aves - justificou Riff. - Então, vemos que a explicação da preservação não parece ser a melhor; a ecológica é mais razoável.

Crânio de animal que viveu há mais de 260 milhões de anos no RS vai ser apresentado em museu

Após quase quatro anos de trabalhos de limpeza e restauração, o crânio de um antepassado dos mamíferos será apresentado no Museu de Paleontologia do Instituto de Geociências da UFRGS a partir das 10h desta terça-feira.
Encontrado em 2008 em São Gabriel, o fóssil é de um predador que pode ser considerado um parente pré-histórico dos leões.
O animal teria vivido no Rio Grande do Sul há mais de 260 milhões de anos. Os quatro dentes caninos grandes e curvados, em forma de gancho, são característicos de um carnívoro. Além disso, o crânio com quase 35 centímetros de comprimento (da parte posterior à ponta do focinho) apresenta oito pequenos dentes com serrilhas e outros quatro dentes incisivos em cada lado, totalizando 52 dentes.

A espécie foi chamada pelos pesquisadores de Pampaphoneus biccai, que significa "matador dos pampas" (o nome também homenageia José Bicca, proprietário da fazenda onde foi realizado o achado). Segundo o paleontólogo Juan Carlos Cisneros, responsável pela descoberta, ele é o primeiro animal carnívoro que viveu na América do Sul na Era Paleozoica.

— Ele não é um dinossauro, é um dincefálio, de um grupo de animais ancestral dos mamíferos — afirma.

De acordo com os cálculos dos paleontólogos, o predador pré-histórico seria quadrúpede e teria até três metros de comprimento (da face à ponta da cauda). Ele habitou a Terra no período Permiano, em uma época em que os continentes estavam se reagrupando. Alguns fósseis de animais semelhantes ao Pampaphoneus já foram encontrados na Rússia e na África do Sul.

Cisneros supõe que ele teria migrado entre as regiões devido ao alto poder de adaptação ao ambiente. Por comparação, o paleontólogo traça um paralelo com o puma, felino de grande porte que pode ser encontrado nas Américas:

— Ele era um predador de topo da cadeia alimentar, o equivalente ecológico a um leão. Ele desempenharia o mesmo papel na natureza que os grandes felinos.

No ano passado, o mesmo grupo de pesquisadores identificou um herbívoro da espécie Tiarajudens eccentricus, encontrado na mesma região. Cisneros afirma que o Pampaphoneus seria o predador deste animal. Ele ressalta que também já foram encontrados em solo gaúcho vestígios da existência de alguns anfíbios e répteis:

— No Brasil, quase tudo que se conhece desse período geológico foi encontrado no Rio Grande do Sul ou no Paraná.

O período Permiano foi o último da Era Palozoica. Cisneros destaca que o clima na região gaúcha, na época, era mais árido e sazonal, com grandes períodos de chuva e de seca, como no continente africano atual. Além disso, ele destaca a existência de muitos vulcões na época, cuja ação teria causado a extinção de 90% da vida existente na Terra.

Segundo Cisneros, a descoberta do predador dos pampas deverá ser publicada nesta semana na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
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