O paleontólogo Alexander Kellner, um dos principais "caçadores de dinossauros" do Brasil, costuma dizer que, "na maioria das vezes, questões relacionadas aos aspectos da vida dos animais que fizeram parte do passado geológico do nosso planeta não têm resposta”.
Membro da Academia Brasileira de Ciências e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o seu trabalho é montar um quebra-cabeça infinito - sem saber onde estão as peças nem qual será a imagem final.
Membro da Academia Brasileira de Ciências e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o seu trabalho é montar um quebra-cabeça infinito - sem saber onde estão as peças nem qual será a imagem final.
Em busca destas peças que ajudem a entender como o planeta era há milhões de anos e como ele se tornou o que é hoje, pesquisadores têm descoberto no Triângulo Mineiro, no interior de Minas Gerais, um manancial de fósseis que estão deixando o retrato do planeta cada vez mais interessante.
A mais recente descoberta no local indica a existência de uma espécie de supercrocodilo pré-histórico, extinto há 70 milhões de anos.
Com três metros de comprimento, o chamado Pissarrachampsa sera aterrorizava a região. “Considerando a fauna neste período, na América do Sul, as possíveis presas dele incluiriam outros crocodilos e dinossauros”, explica Felipe Montefeltro, pesquisador brasileiro que está na Universidade MCGill, no Canadá. Ele publicou recentemente um estudo referente à descoberta do crocodilo mineiro.
Montefeltro conta que este tipo de espécie de crocodilo só teve registro no Triângulo Mineiro, mas outras espécies do grupo foram registradas em São Paulo e Argentina. “Comecei os estudos em 2008, quando fomos informados da ocorrência de fósseis em Campina Verde (cidade a 672 quilômetros de Belo Horizonte).
Até o momento, encontramos basicamente esta única espécie, variando de fragmentos, como crânios, até espécimes mais completos. Com base na morfologia, podemos dizer que seriam terrestres, carnívoros e possivelmente bem ativos”, explica ele.
Berço de fósseis
O professor Vicente de Paula Antunes Teixeira, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), conta que existem registros de fósseis na região desde 1945 e estima-se que apenas 1% de material histórico tenha sido encontrado até agora.
Ele lembra que uma das últimas espécies de dinossauro no Brasil teve registro encontrado em Uberaba, em 2004. O Uberabatitan ribeiroi, com 3,5 metros de altura, viveu há 65 milhões de anos.
“De março a setembro, sempre estamos escavando. Há muitas espécies de dinossauros ainda a descobrir Uberaba”, conta ele, esperançoso.
Teixeira explica que, após ser descoberto, o fóssil é retirado da terra e encaminhado ao laboratório para análise. Em seguida, é feita uma réplica de espuma do animal e um desenho de como ele seria. Depois, o material é catalogado e segue para exposição em museus.
O promotor de Defesa do Patrimônio Público do Estado de Minas Gerais Marcos Paulo de Souza Miranda afirma que os fósseis do crocodilo de Minas ficarão sob custódia de instituições do Estado após estudos por pesquisadores paulistas.
Hoje, os fosseis dos crocodilos encontram-se na Universidade Federal de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
Após a pesquisa de Montefeltro, em quatro anos o material deve retornar ao Estado de origem, graças a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público de Minas Gerais e a USP.