18 janeiro, 2012

O maior predador do Sudeste brasileiro há 80 milhões de anos

Enquanto os dinossauros carnívoros dominavam diversas regiões do mundo no Período Cretáceo (de 145 milhões até 65 milhões de anos atrás), no Sudeste brasileiro um outro animal era o dono do pedaço há 80 milhões de anos.

Com dentes serrilhados — próprios para abater o adversário e cortar sua carne — e até 6 metros de comprimento, a mais recente espécie de crocodilo pré-histórico descrita por paleontólogos é o Stratiotosuchus maxhechti, chamado de croc-gladiador, foi apontado como o maior predador do período.
- Há muitos anos, desde que se encontrou o primeiro exemplar desse grupo, em 1945, achava-se que eram jacarés diferentes dos demais - conta o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ, coautor do estudo publicado na “Zoological Journal of the Linnean Society”, de Londres. - Havia sempre a ideia de que esses animais competiriam com os dinossauros carnívoros, raros no Cretáceo brasileiro, pelo topo da pirâmide alimentar. Mas não havia nenhum estudo com um esqueleto que pudesse sustentar isso.
Diferentemente dos crocodilos atuais, a fera era completamente terrestre. O crânio era alto, não achatado; as narinas totalmente voltadas para frente e não para o alto, e os olhos, igualmente frontais.
- Já se havia aventado a hipótese de que esse grupo de predadores terrestres não seriam como hoje, por conta dessas características cranianas, por ter narinas e olhos voltados para frente - explica o paleontólogo Douglas Riff, coautor do estudo, da Universidade de Uberlândia. - Mas faltava estudar a anatomia dos membros.
Ao longo de seis anos, Riff dedicou boa parte de seus estudos a isso, revelando características peculiares.
- Era um bicho terrestre, que andava ereto. Não sobre duas patas, sobre quatro, mas com as pernas para baixo do corpo, como um mamífero, e não como um lagarto cujas pernas são para o lado, espalhadas, e cuja barriga fica próxima do chão - explicou Riff. - Os jacarés de hoje são peculiares porque podem ter as duas posturas. Quando estão na água, ou na beira da água, ficam mais espalhados. Mas eles conseguem jogar os membros para baixo e até correr galopando.
Os especialistas conseguiram detalhar também a eficiência da mordida do bicho. Dentes serrilhados — típicos, por sinal, de dinossauros carnívoros —, maiores na parte da frente e praticamente ausentes no terço final da mandíbula, são característicos de animais que caçam bichos maiores do que eles, segundo Riff.
- Trata-se de um hiperpredador, arrancando nacos da presa e engolindo sem mastigar. A serrilha no dente é como uma faca laser, amplia o poder de corte - resume Riff. - Para se ter uma ideia, o Tiranossauro rex é exatamente assim, quase não tem dente na parte posterior da mandíbula e, quanto mais para frente, maiores os dentes.
O fóssil foi encontrado nos arredores de Presidente Prudente, em São Paulo. Ao menos naquela região os especialistas acreditam que os crocodilos pré-históricos eram os donos do pedaço, os maiores predadores, e não os dinos carnívoros, como é mais comum.
Inicialmente achou-se que essa aparente discrepância poderia ser atribuída a uma questão de preservação de fósseis.
- Em primeiro lugar, a abundância de fósseis (dos crocodilos) é grande e os de dinos carnívoros não aparecem muito. E há muitos dinossauros herbívoros também, assim como outros bichos, como tartarugas e até aves - justificou Riff. - Então, vemos que a explicação da preservação não parece ser a melhor; a ecológica é mais razoável.

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